POR QUÊ UMA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA SOCIAL?
Enquanto a Psiquiatria Clássica centra sua ação na cura dos distúrbios psíquicos usando psicotrópicos, psicoterapias diversas, realizadas por especialistas, a psiquiatria social foca no meio ambiente social e nos recursos culturais. Ela faz apelo a outras disciplinas acadêmicas para uma ação transdisciplinar e inclui saberes e abordagens construídas em diferentes universos culturais, abordagens estas, holísticas e integrativas em vista de uma ação transcultural. Luta contra a estigmatização e intervém nos determinantes sociais da saúde.
Os especialistas exercem com muita competência os cuidados clínicos em hospitais, postos de saúde e consultórios, entretanto os cuidados solidários são realizados por indivíduos comuns, não especialistas, mas sim cuidadores detentores do saber proveniente das diversas etnias que constituem a riqueza da nação brasileira: pajés, curandeiros, xamãs, pretos velhos, rezadeiras, etc.
Acolher o sofrimento, a dor da alma, é uma ação cidadã. Todo indivíduo é convidado a cuidar de si mesmo e dos outros. Ele se situa no campo da promoção da saúde mental, da promoção da vida, e da prevenção. PREVENIR é chegar antes do adoecer, é intervir naquilo que gera doença: lutar por mais justiça social, promover bem-estar, respeitar as diferenças culturais, lutar pelos bens comuns: água, terra, o ar que respiramos.
São inúmeras e diferentes as formas de acolher e cuidar do outro para despertar nele suas capacidades e potencialidades criativas, que constituem um recurso indispensável na recuperação e inserção social.
Dentre as 19 terapias integrativas e complementares, movimentos de cuidados solidários existentes no Brasil e reconhecidas pelo Ministério da Saúde, destaca-se a Terapia Comunitária Integrativa (TCI), abordagem nascida no Brasil, que se caracteriza por articular os diferentes saberes de maneira complementar e não concorrencial. Já presente em 24 países, a TCI, tem sido considerada um instrumento de intervenção psicossocial que, além de intervir nos determinantes sociais da saúde, permite o surgimento de vínculos interpessoais que favorecem a inserção social, o sentimento de pertencimento em relação a um grupo e o reforço da confiança em si.
Para promovermos a saúde mental das pessoas, precisamos, além do saber universitário, de nos apoiar sobre a mutualização dos diversos saberes de cada cultura que compõe o tecido social brasileiro bem como colocar em comum estes conhecimentos e sabedorias adquiridas através das experiências de vida que constituem recursos e capital existencial de grande valor para toda a sociedade brasileira. Limitar os cuidados apenas à bioquímica dos distúrbios mentais seria uma pobreza imensa e apenas anestesiaríamos o sofrimento, agravando a saúde dos pacientes.
Video no youtube: https://youtu.be/VilqYi1BwDA